BODAS DE OURO SACERDOTAL
E DIÁLETICA DE UMA VIDA !
UM REPTO AO
CELIBATO OBRIGATÓRIO !
Padre Almir Simões
Primeiro filho de Ibicaraí a se ordenar Padre.
CELIBATO OBRIGATÓRIO !
Padre Almir Simões
Primeiro filho de Ibicaraí a se ordenar Padre.
22/12/1967 a 22/12/2017
Foi um acontecimento impar e marcante na minha vida e também na cidade de Ibicaraí – Bahia. Cinquenta anos se passaram ! Esta data não poderia ficar em branco. O catecismo católico ensina que o sacramento da Ordem imprime caráter indelével e o canto de entrada na igreja foi o Salmo 109 do rei Davi : “ Tu es sacerdos in aeternum ”. Emocionante o ritual litúrgico e a festa preparada pelo saudoso Pe. Sinval Medeiros no templo ainda sendo reformado. A ordenação sacerdotal representou para mim a culminância de 14 anos de estudos propedêuticos, filosóficos e teológicos na busca de um sonho que se chama vocação. E eu tive uma graça especial : estudar no período do Concilio Vaticano II e do Santo João XXIII. Isto é inesquecível e fez a diferença. Sou grato a Deus pelas oportunidades e bênçãos recebidas , pelos princípios e valores internalizados , por todos os passos dados, por todas as pessoas que foram colocadas no meu caminho ... Valeu a pena !
Ordenação do Padre Almir Simões
A prostação diante do altar não significou que o jovem sacerdote morreu para o mundo nem para si mesmo, mas quanto mais terra à terra, quanto mais identificado às causas humanas , ele se consagra a Deus. O amor a Deus não exclui o amor humano ... O bio–psico–social–cósmico-espiritual, numa pessoa humana, são indissociáveis e importantes para a completude do ser, o equilíbrio emocional, a vivência da oração , a paz do espírito.
O sacramento matrimonial do Pe. Almir Simões
O sacramento da Ordem e o sacramento do matrimônio não são incompatíveis entre si. Pedro era casado e Paulo admoesta: “É melhor se casar do que se abrasar”... Deus chama ... a hierarquia da igreja infelizmente afugenta ... e os fieis não cessam de cantar e rezar : “ Enviai Senhor operários para a vossa messe pois a messe é grande e poucos os operários ”. Não seria esta oração uma blasfêmia, um insulto à divindade ? São as contradições internas, humanas e institucionais , os penduricalhos herdados de Constantino à partir do séc. III , que ainda resistem e são responsáveis pelo grande êxodo das vocações sacerdotais. No Brasil, calcula-se que 8 mil padres deixaram o ministério e em toda a igreja, no mundo, 150 mil... Será que todos eles não tiveram vocação ? Discute-se hoje a formação dos padres para o momento atual mas não pode se esquecer do seu estilo de vida. As normas ainda em vigor são dos Concílios de Niceia ( 325 ) e de Trento ( 1542 ).
Em 1969 D. Frei Caetano, saudosa memória, o bispo de Ilhéus que me ordenou , sensível às necessidades dos seus sacerdotes, pediu-me que fosse a Belmonte visitar o padre João Clímaco para se inteirar da sua situação de saúde e das necessidades pastorais. Imaginei que se tratasse apenas de uma prestação de serviço, no mínimo, uma caridade cristã, mas Deus vai redirecionando a nossa vida e falando através de fatos e acontecimentos. Lá fui eu. Encontrei-me com um padre velhinho, morando sozinho, à frente daquela comunidade paroquial N. Sa. do Carmo, há quase 40 anos. Sentia muitas dores e com dificuldade vestia a batina por conta de uma erisipela terrível. Rezava todas as orações da missa em latim pois já sabia decoradas. Não aceitou que eu celebrasse a missa em seu lugar pois incorporava o sacrifício da sua vida à oferenda da ceia eucarística. Ficar sem celebrar só se estivesse acamado.
Apesar da idade avançada e da doença o Pe. João Clímaco era um carioca bem humorado, lúcido, acolhedor , que gostava de contar causos e umas piadinhas inteligentes. Cativou-me e criamos afinidades. Com ele abri o meu coração. Ele desabafou as suas mágoas e eu simplesmente ouvi o inusitado, o insight que estava necessitando : “ Meu filho, você é jovem e pode ainda redesenhar a sua vida ... ajudei a criar e formar dois meninos pobres que se fossem realmente meus filhos não estaria nesta situação ...” Isto me doeu na alma. Vi naquela figura sofrida e sensata, como se estivesse diante de um espelho, o meu alter-ego.
Apesar da idade avançada e da doença o Pe. João Clímaco era um carioca bem humorado, lúcido, acolhedor , que gostava de contar causos e umas piadinhas inteligentes. Cativou-me e criamos afinidades. Com ele abri o meu coração. Ele desabafou as suas mágoas e eu simplesmente ouvi o inusitado, o insight que estava necessitando : “ Meu filho, você é jovem e pode ainda redesenhar a sua vida ... ajudei a criar e formar dois meninos pobres que se fossem realmente meus filhos não estaria nesta situação ...” Isto me doeu na alma. Vi naquela figura sofrida e sensata, como se estivesse diante de um espelho, o meu alter-ego.
A viagem de volta para a minha comunidade paroquial em Itabuna dirigindo, solitário , um fusquinha, pareceu-me longa demais ... alternavam cenários na minha mente e da compaixão brotou-me uma luz. A felicidade e a santidade, vocação última de todas as pessoas, exigem que haja sinceridade e humildade para aceitar as próprias limitações e fragilidades e também coragem para tomar decisões. Podemos aprender com a experiência e a sabedoria dos mais velhos.
Em 1971 dialoguei com meu novo bispo D. Valfredo Tepe ... e prevaleceu a minha vontade. Expus ao Vaticano – Congregação da Doutrina da Fé - argumentos para iniciar um processo de laicização. Confortou-me o que aprendi com o mons. Roxo nas aulas de Teologia na Faculdade em São Paulo : “ A graça divina supõe a natureza, não a sobrepõe, nem a violenta, nem a destrói ”. É como se fosse os raios do sol perpassando por entre as nuvens carregadas da minha vida. Tudo se resolveria no âmbito da minha consciência, sacrário vivo onde só Deus penetra ( Gaudium et Spes, 16 ).
Em 1971 dialoguei com meu novo bispo D. Valfredo Tepe ... e prevaleceu a minha vontade. Expus ao Vaticano – Congregação da Doutrina da Fé - argumentos para iniciar um processo de laicização. Confortou-me o que aprendi com o mons. Roxo nas aulas de Teologia na Faculdade em São Paulo : “ A graça divina supõe a natureza, não a sobrepõe, nem a violenta, nem a destrói ”. É como se fosse os raios do sol perpassando por entre as nuvens carregadas da minha vida. Tudo se resolveria no âmbito da minha consciência, sacrário vivo onde só Deus penetra ( Gaudium et Spes, 16 ).
Em 1974 o papa Paulo VI concedeu-me a licença pra contrair matrimônio. Muda-se o estilo de vida, supera-se a solidão afetiva, mas não se perde a essência de si mesmo nem a unção sacramental. É interessante observar nas fotos da ordenação que o celebrante ungiu e amarrou as minhas mãos mas em seguida a minha mãe desamarrou-as. Elas continuarão para sempre ungidas e libertas.
Vivo hoje o sacerdócio numa dimensão familiar, a igreja doméstica, com esposa, filhas e netos, motivo especial de dignidade e ação de graças. A vocação é dinâmica e libertadora. Santo Agostinho a define de forma extraordinária : “ Ama e fazes o que quiseres ”...
O papa Francisco tem dado sinais de compreensão e abertura aos desafios pastorais e eclesiásticos mantendo uma postura anti-discriminatória. Em meio às muitas resistências que sofre , continua rompendo algumas tradições. Surpreendeu visitando na periferia de Roma uma família de padre casado e lavando os pés de dois jovens muçulmanos em cerimônia de uma semana santa. Na Amoris Leticia (p 125 / n 204) afirma que “ a paróquia é a família das famílias ”, ressalta que “ os ministros ordenados carecem de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais das famílias ”, e completa dizendo que “ pode ser útil também a experiência da longa tradição oriental dos padres casados ”. Convém salientar que o nosso querido papa Francisco tem sobre seus ombros uma estrutura pesada de mais de 16 séculos. Muito bem disse Frei Beto : “ Ele é uma cabeça aberta num corpo fechado”.
O papa Francisco tem dado sinais de compreensão e abertura aos desafios pastorais e eclesiásticos mantendo uma postura anti-discriminatória. Em meio às muitas resistências que sofre , continua rompendo algumas tradições. Surpreendeu visitando na periferia de Roma uma família de padre casado e lavando os pés de dois jovens muçulmanos em cerimônia de uma semana santa. Na Amoris Leticia (p 125 / n 204) afirma que “ a paróquia é a família das famílias ”, ressalta que “ os ministros ordenados carecem de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais das famílias ”, e completa dizendo que “ pode ser útil também a experiência da longa tradição oriental dos padres casados ”. Convém salientar que o nosso querido papa Francisco tem sobre seus ombros uma estrutura pesada de mais de 16 séculos. Muito bem disse Frei Beto : “ Ele é uma cabeça aberta num corpo fechado”.
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OBRIGADO PELA SUA HONESTA PARTICIPAÇÃO