Profº. Odilon Pinto Mesquita Filho
* 15/07/1948.
+ 13/01/2021.
É com bastante pesar que recebemos o comunicado do falecimento do nosso amigo Profº. Odilon Mesquita, feita pelo seu filho Rivamar Mesquita.
"Com muito pesar que eu filho, em nome de toda família e amigos, trago para vcs a triste notícia do falecimento do professor, radialista, ex ceplacquiano, ODILON PINTO.
Desde já agradecemos os sentimentos de todos. Logo estaremos colocando para todos o velório e sepultamento. "
Ass. RIVAMAR MESQUITA
Em seguida vamos relembrar essa entrevista feita pela amiga Celina Santos, do jornal Diário Bahia, em 26/04/2019.
Odilon Pinto supera 70 anos, em defesa da democracia e da cultura popular
PostDateIcon 26/abr/2019 . 18:22 | Autor: Editor
por Celina Santos, no Diário Bahia
Um doutor das letras nos laços da cultura popular; um defensor da democracia, que literalmente sentiu na pele as marcas de não aceitar o que lhe era imposto. Eis as primeiras palavras que podem descrever o radialista, professor e pesquisador Odilon Pinto Mesquita Filho. Com 70 anos e 9 meses intensamente percorridos, ele nasceu em Teresina (PI), mas chegou a Itabuna ainda na juventude, trazido pela organização política Ação Popular.
O grupo arregimentava pessoas movidas pelo ideal de liberdade e contra a Ditadura Militar, cujos efeitos foram vividos no Brasil de 31 de março de 1964 até 1985. “Eu lutei muito! Eu e muita gente lutamos, arriscando a vida até. Eu estou vivo por sorte (risos contidos)”, recorda ele, que ficou anos preso.
Detido em Ibicaraí e levado para a Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador, Odilon Pinto experimentou o já tão relatado tratamento dispensado àqueles que não concordavam com aquele regime. Diante de nossa pergunta (um tanto óbvia, mas necessária) se ele foi torturado, o hoje grapiúna detalhadamente – embora sereno – contou:
“Fui! Todo mundo na época era. Eles queriam saber o nome dos outros. Prendiam você e, logo nos primeiros dias, ia torturar pra você entregar quem eram os outros. Choque, pancada, surra… E quando eles achavam que era perigoso, eles matavam mesmo. No meu caso, não. Porque quando me prenderam, eles já sabiam tudo. Em Panelinha, perto de Camacan, eu morava com um casal de companheiros e, quando eles prenderam o casal, eu fugi. Mas quando me prenderam depois, já sabiam tudo quem eu era, o que eu fazia, já tinham levantado tudo, investigado tudo”.
Aí perguntamos: e quem o senhor era? Ao que ele, mais uma vez serenamente, respondeu: “Eles chamavam de terrorista, mas eu acho que aquilo era só pra botar uma imagem negativa. Eu era militante comunista, militante revolucionário e ponto. Lutava pela democracia, eleição, essas coisas. Que as pessoas pudessem escolher quem governava, era isso que a gente fazia”.
Diante do gancho, emendamos: qual a avaliação dele sobre a democracia brasileira? “É um estágio de altos e baixos. Mas é isso mesmo; acho que não tem outro caminho não. É isso mesmo. Vai, vem, uma hora avança, outra hora volta pra trás. A democracia é o melhor caminho. Naquela época, a luta mesmo era pelo estado democrático de direito. Você não tinha direito a nada, hoje você pode fazer tudo. É o normal, que todo país tem”, avaliou.
“De fazenda em fazenda”.
Talvez por ter passado um período labutando na zona rural ao fugir da Ditadura, Odilon Pinto tomou gosto por retratar o universo dos trabalhadores de lá. Prova disso é o sucesso do programa “De fazenda em fazenda”, à época transmitido pela Rádio Jornal para Itabuna e região. A atração, que misturava informação e entretenimento, tornou-se companhia inseparável para aqueles que atuavam nas roças de cacau.
Há relatos de que as pessoas levavam o rádio até o local da “lida”, especificamente, para ouvir o programa, que ia ao ar logo no início do dia. Sobre isso, sorridente, lembrou: “Porque eu falava pra eles, não é? O resto não falava. Eu entrevistava eles, ia na roça entrevistar. Então, o sujeito estava lá na roça, um trabalhador rural, nunca pensou na voz dele sair no rádio… Eu ia lá, conversava, gravava, depois botava no rádio. Eles ficavam loucos!”.
Com o exercício da profissão de radialista nos chamados “tempos áureos do cacau”, ele demonstrava, também, o desejo de democratizar a comunicação. “Porque se a história do programa era sobre eles, como eu ia fazer um programa rural sem conversar com os trabalhadores? É porque o programa era pra eles. Então, como a pessoa vai se interessar de ouvir o programa se não tiver nada dele? Tinha que ser dele, se ver no programa. E aí realmente tinha audiência, tinha muito ouvinte porque o trabalhador se via. Eu ia na roça entrevistar, ele se ouvia e aí espalhava”, afirma, um tanto surpreso pela menção ao “De fazenda em fazenda”.
Indiscutivelmente, teve um olhar corajoso ao retratar aqueles até então desconhecidos. Ele, inclusive, tem consciência do quanto a coragem o move para fazer tudo que deseja. “Isso eu me considero! Tudo que é preciso fazer tem que fazer. Custe o que custar”, arrematou.
Este é o mesmo homem que constata não ter arrependimentos. “A própria militância política eu podia ter escolhido outro caminho. Mas naquela época, você não podia entrar em partidos. Então, eu fui porque fui; acabou, tinha que ser. Ou era assim, ou você tinha que se acovardar. Mas aí também não é assim e falei: vou lutar com o que tinha na época”.
“Aprender é sempre”.
A universidade foi outra seara em que Odilon Pinto se destacou. Formado em Letras, professor, ele fez mestrado e, depois, doutorado em Linguística.
Indagamos, então, o que ficou como maior lição daqueles tempos. “O mais importante, que a gente aprende na pós-graduação, é como aprender. Você vai e pesquisa, tem que pesquisar, é o que mais enriquece, que soma ao conhecimento. Você se acostuma a lidar com o conhecimento. Você quer conhecer uma coisa, como é que faz? Aí tem toda uma metodologia, é o que mais fica”, argumenta.
Neste trecho específico, o educador dá um verdadeiro ensinamento que vale para tudo – não apenas para a esfera, digamos, das letras. “Aprender é sempre e é uma luta; é um trabalho que a gente tem. Tem que ir lá, tem que pesquisar, não é assim fácil”, mensurou.
Aliás, quisemos saber o que nosso entrevistado tem como principal realização da vida. Mais uma vez, ele mostra um traço da personalidade que o conduziu nestes 70 anos. “Pra mim, minha melhor realização é aprender a viver. Você viver pesquisando, fazer o que gosta. O trabalho nunca pesou pra mim, porque sempre fiz o que gostava. E aí, quando você faz o que gosta, não tem dificuldade. Tudo você enfrenta, tudo você faz, tudo tá bom e pronto”, observou.
Sonho e felicidade.
Possivelmente num encontro com as lembranças daquele jovem a abraçar o ideal de democracia, ele compartilha que vive um momento de calmaria. “O que tinha de conquistar já está conquistado, o país mudou. A minha agora é os netos, os filhos, é viver em paz. Não tenho ambição. Já fiz faculdade, já fiz doutorado … Não tem nada assim que eu queira, que eu precise ainda alcançar. A ambição é viver em paz, ter o dinheiro da feira, tenho casa própria, não preciso trabalhar, o quê eu quero mais? (risos)”, reflete, sempre com uma bem-humorada e elegante discrição.
Sobre família, ele confessa que teve relacionamentos anteriores, tem filhos, mas há 34 anos é casado com Rosilene Ferreira Mariano de Mesquita. “Você quer arranjar uma pessoa, viver bem e acabou. Procurei o tempo todo uma pessoa com quem eu vivesse bem, em paz, sem ter atrito. É assim que eu vivo”, disse.
Por falar em viver, ele tem convicção de que só deseja estar nesta terra enquanto tiver saúde. Agnóstico, procura não fazer conjecturas sobre o quê acontecerá após a morte. “Não me preocupo com isso. Se tiver Deus, eu vivo bem. Pouca gente é mais correta do que eu; então, eu devo ir pro céu. Se tiver o céu, eu vou pro céu. Não tenho dúvida. Se não tiver, também tudo bem”, assinalou.
Fonte: Celina Santos - Diário Bahia