segunda-feira, 31 de agosto de 2020

LUGAR DA MULHER É ONDE ELA QUISER





A MULHER NA  VIDA DA IGREJA – PONTOS DE REFLEXÃO  !  

 

1 - Todos nós somos filhos do tempo em que vivemos e por isso as pessoas mais idosas , com raras exceções ,  carregam valores e costumes do passado e tem dificuldade de se atualizar. Frequentemente elas dizem : “ No meu tempo não era assim” ... A cultura machista judaica influenciou profundamente a sociedade e também a tradição da igreja católica. Criou raízes que perduram até hoje. Gerou um script de vida , normas e disciplinas institucionais das quais não conseguimos nos desvencilhar. Em pleno sec. XXI ainda existe na igreja vestígios do pensamento dos  Concílios de Niceia ( 325 ) e de Trento ( 1542 ). A ordenação sacerdotal de mulheres  ainda se constitui um tabú , apesar da abertura do santo papa João XXIII e as diversas intervenções do Concilio Ecumênico Vat II  explicitadas em sua mensagem final :  « Mas a hora vem, a hora chegou, em que a vocação da mulher se realiza em plenitude, a hora em que a mulher adquire no mundo uma influência, um alcance, um poder jamais alcançados até agora. Por isso, no momento em que a humanidade conhece uma mudança tão profunda, as mulheres iluminadas do espírito do Evangelho tanto podem ajudar para que a humanidade não decaia » ( AAS 58 (1966), p. 13-14 ).


2 –  O papa Paulo VI  interpretou este « sinal dos tempos », conferindo o título de Doutora da Igreja à Santa Teresa de Jesus e à Santa Catarina de Sena e instituiu, além disso, a pedido da Assembléia do Sínodo dos Bispos em 1971, uma Comissão especial cuja finalidade era estudar os problemas contemporâneos concernentes à « promoção efetiva da dignidade e da responsabilidade das mulheres ». Num de seus discursos, declarou, entre outras coisas « No cristianismo, de fato, mais que em qualquer outra religião, a mulher tem, desde as origens, um estatuto especial de dignidade, do qual o Novo Testamento nos atesta não poucos e não pequenos aspectos ... aparece com evidência que a mulher é destinada a fazer parte da estrutura viva e operante do cristianismo de modo tão relevante, que talvez ainda não tenham sido enucleadas todas as suas virtualidades .


3 - O santo padre João Paulo II escreveu uma brilhante Encíclica sobre a Dignidade das Mulheres ( Mulieris Dignitatem ). Ele afirma que “o fato de ser homem ou mulher não existe diferença essencial e não comporta nenhuma limitação”... Mas o seu pontificado na prática foi um verdadeiro paradoxo   !  O missionário itinerante que encantava multidões governou a igreja com mãos de ferro. Ele não realizou internamente as mudanças pastorais , exigências do mundo moderno e da  missionaridade que tão bem escreveu na sua carta.  Ao contrário , com ele e o papa Bento XVI , houve um aumento de bispos conservadores , retrocesso na formação dos clérigos sem a devida importância aos  Documentos do Vat II e um acerbamento da autocracia e da disciplina eclesiástica.  Seus pontificados foram marcados  pela chamada “ grande disciplina ” na expressão do teólogo brasileiro João Batista Libânio.  A igreja , ao invés de aculturar-se , modificar pastoralmente o  seu “ jeito de ser ” , conforme D. Pedro Casaldáliga , adaptando-se às diversas realidades , ficou mais e mais verticalizada. Os teólogos José Comblin qualificou o período destes pontificados de “noite escura” e Karl Rahner de “igreja invernal” – um longo e frio inverno... e ao nosso Leonardo Boff foi solicitado silêncio obsequioso. (1)


4 - Os Anglicanos avançaram e venceram  barreiras. Nesta foto vemos a freira , Irmã Diana ( The Episcopal Church – Igreja Anglicana dos EUA ) presidindo a Santa Eucaristia. Que as relações ecumênicas dos católicos com os anglicanos abram novos caminhos ...

 

5 - O papa Francisco tem dado sinais de compreensão dos problemas existenciais , os desafios pastorais  e eclesiásticos   que afligem a humanidade e a igreja ,  e mantem uma  postura anti-discriminatória e aberta ao diálogo. Em meio às muitas resistências que sofre , continua rompendo algumas tradições. Na  Amoris Laetitia (p 125 / n 204) afirma que  “ a paróquia é a família das famílias ”,  ressalta que  “ os ministros ordenados carecem de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais das famílias ”. Evidente que não dá para entender família sem a presença da mulher. E o papa vai além :  admite até esta presença da mulher na vida do padre quando afirma :  “ pode ser útil  também a experiência da longa tradição oriental dos padres casados ”.  Convém salientar que o nosso querido papa Francisco tem sobre seus ombros uma estrutura enorme e pesada de mais de 16 séculos e ainda um colégio cardinalício em sua maioria conservador. Muito bem disse Frei Beto : “ Ele é uma cabeça aberta num corpo fechado”. A igreja- instituição precisa se reinventar e ele, com palavras e gestos , representa a esperança de uma nova era.


6 - A mulher não é uma pessoa de segunda classe como pensaram alguns filósofos. Tem direitos e deveres iguais. As diferenças de gênero , físicas e psíquicas , existem para que haja complementariedade e não exclusão. Jesus enfrentou fariseus e doutores da Lei por ser contra todo tipo de discriminação, marginalização e preconceito. Foi odiado por ter perdoado a mulher adúltera que eles queriam matar à pedradas... Até os discípulos ficaram admirados ou melhor escandalizados quando o viram conversando com uma mulher samaritana. Por acaso não foi exatamente a samaritana  quem primeiro revelou ao mundo a presença do Messias e Maria Madalena o Cristo Ressuscitado ? E  Maria , a jovem de Nazaré que  durante  nove meses foi sacrário vivo do Verbo Encarnado ,  não poderia ser considerada teologicamente a primeira sacerdotisa ? Ela representa a extraordinária dignidade da mulher que se insere na historia da salvação.


7 - As mulheres sempre estiveram juntas com Jesus. Eram elas que lá aos pés da cruz estavam presentes ... Segundo alguns historiadores e exegetas é possível que também na 5ª. feira santa  existisse a presença de mulheres  na fração do pão , mas  por conta  do “Fazei Isto em Memória de Mim” e por uma questão machista influencia do judaísmo , fora omitido pelos escritores sagrados e teve repercussão nos artistas plásticos que reproduziram o cenário da Última Ceia.

Para a igreja católica institucional  continua em aberto duas agendas : O celibato opcional para os sacerdotes e a ordenação sacerdotal de mulheres , solteiras , casadas ou viúvas.  Que o Espirito Santo ilumine. 

                                                          ( Almir Simões )


(1) Leituras sugeridas:

a) - Enciclica Mulieris Dignitatem – João Paulo II – 1988

b) - A grande disciplina, João Batista Libânio. São Paulo: Loyola, 1983

c) - A Igreja do Brasil – de João XXII a João Paulo II, de Medellín a Santo Domingo, José Oscar Beozzo. Petrópolis: Editora Vozes, 1994

d) - O povo de Deus , José Comblin – Paulus Editora, 2000

e) - Enciclica Amoris Laetitia – Papa Francisco, 2016

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